terça-feira, março 31, 2009

Por que os dirigentes não gostam dos Estaduais?!

Porque é o único campeonato que não se pode perder. É o único que se tem obrigação de vencer.

Se ele não existisse, a pressão sobre eles seria bem menor. Todos reclamam que é o que menos vale, mas é que mais dá dor-de-cabeça quando se perde.

O sonho dos dirigentes é ser 10º colocado do Campeonato Brasileiro...

terça-feira, março 24, 2009

"Sobre Volantes" ou "Como a linguagem afeta um debate"

Juca Kfouri, Tostão e Wianey Carlet andam escrevendo sobre o volante. O problema é que eles não estão falando a mesma língua. E aí ninguém se entende.

Esclareçamos. O que Tostão e Kfouri chamam de "volante" -e que estaria desaparecendo- é, de fato, o "cabeça-de-área", o "trinco" ou o "cinco" (sinônimos).

O jogador que fica FIXO à frente da zaga, não pode ser chamado de "volante" (algo, por natureza, móvel). "Volante", como bem lembram os argentinos, é aquele jogador que marca, mas também sai para o jogo. É aquele que tanto pode jogar como "cabeça-de-área" ou "meia" dependendo da situação no jogo.

O "meia-armador", "meia-de-ligação", "meia-atacante", "dez" ou "enganche" (sinônimos) é exatamente o oposto ao "cabeça-de-área". É um jogador que está sempre solto, sem muitas preocupações defensivas, responsável pela armação das jogadas de ataque.

O nome "volante" foi corrompido no Brasil. Passou a significar o "brucutu" quando nunca foi criado para isso. "Volantes" são Gerrard, Hernanes, Lampard, Lucas, Ânderson, etc. Quando foi desenvolvido o 4-4-2 brasileiro, com dois "cabeças-de-área" e dois "enganches", passou-se a chamar os mais recuados de "volantes" -uma alusão ao 4-2-4?- e os mais adiantados de "meias". E estava feita a confusão.

Seria excelente para os nossos "formadores de opinião" futebolística que tratassem ou de estabelecer um nome único para aquilo que se referem, ou, antes de escrever, que buscassem perceber o que o autor quer dizer quando utiliza determinado nome. Caso contrário, o debate fica inviável.

Não achei o texto do Kfouri.

Eis o do Tostão:

Os volantes já eram - O Povo On Line, 21 de março de 2009 - Não sei se por ironia, incoerência e/ou desconhecimento técnico, Dunga disse que, para convocar Ramires e/ou Hernanes, não poderia chamar Kaká. Contra a Itália, Kaká estava contundido e Hernanes e Ramires não foram chamados.

Elano e Anderson são também dois armadores que marcam e atacam. Ramires e Hernanes disputariam posição com os dois, e não com Kaká.

Como Gilberto Silva atua muito recuado, centralizado e raramente passa do meio-campo, Hernanes e Ramires não têm características para fazer essa função. Mas é preciso encontrar um substituto para Gilberto Silva. Por ser mais jovem, ter mais mobilidade e passe mais rápido, Felipe Melo pode se tornar uma boa opção, mas não para atuar ao lado de Gilberto Silva, como fez contra a Itália. Felipe Melo parecia um clone. Dois Gilbertos Silva são demais.

Só se justifica a presença de dois volantes muito recuados e marcadores, como Gilberto Silva e Felipe Melo (ou Josué), nos momentos em que o Brasil jogar mais atrás e atrair o adversário para contra-atacar, como fez contra a Itália e em algumas vitórias sobre a Argentina. Na maioria das partidas, o Brasil terá de pressionar e vai precisar de armadores que marquem mais na frente e se transformem em atacantes quando o time recuperar a bola.

A palavra volante só serve para confundir técnicos, imprensa e torcedores. É difícil compreender por que Gilberto Silva, Hernanes e Ramires são chamados de volantes, se são tão diferentes.

A partir de hoje, seguindo a sugestão de um leitor de Juca Kfouri, contada em sua coluna, não vou mais utilizar a palavra volante. Os jogadores de meio-campo, que quase só atuam do meio para trás, serão chamados de armadores defensivos; os que atuam quase só do meio para frente serão armadores ofensivos, e os que atuam de uma área a outra, como Ramires e Hernanes (esses são especiais) serão armadores defensivos e ofensivos.

Os brucutus continuam sendo brucutus. Fica mais simples e fácil.
Artilheiros. Os artilheiros são importantes, há vários jogando bem no Brasil, mas não precisa exagerar nas avaliações. Qualquer centroavante fazedor de gols, que não sabe dominar a bola e dar um passe ou um drible, é endeusado e muito mais valorizado que os outros.

Defendo a tese, que nunca será aprovada, que, se colocarem, um zagueiro raçudo, alto e de chute forte, de centroavante, ele também será artilheiro, ainda mais nos campeonatos estaduais.

Hoje, veremos, de um lado, Ronaldo, tentando se reencontrar com a leveza, com a alegria e com os sonhos que tinha aos 17 anos. Só não dá para ter o mesmo corpo. Do outro lado, o franzino Neymar, 17 anos, ainda uma promessa, tentando encontrar o segredo para se tornar um craque como Ronaldo. Passado, presente e futuro juntos. Encontros e reencontros. Todo encontro é um reencontro com algo vivido e/ou imaginado.
E o de Carlet:

Tostão reinventa a roda e extingue o volante - Blog do Wianey, 24 de março de 2009 - Se existe discussão mal conduzida e, mesmo assim, candente e interminável, é esta que envolve uma posição do futebol: o volante. Neste momento, é Tostão, médico, ex-craque e comentarista esportivo, quem joga gasolina no fogo anunciando que está extinta a função do volante. Quer dizer, o brucutu, quebrador de bola, limpa trilhos, o volante estritamente defensivo.

Na verdade, só existe uma verdade: começaram a surgir no Brasil, em bom número, volantes tecnicamente mais qualificados, que marcam e saem para o apoio com natural eficiência. A novidade não está na eliminação da função mas na qualificação da posição, fato que não se determina, apenas acontece, espontaneamente.

O reinado dos maus volantes, entretanto, não é tão absoluto, como se pensa. A Seleção Brasileira já teve Clodoaldo e Carpeggiani, para citar dois, que esbanjavam classe. Falcão, no início da sua carreira, era volante. Depois, Rubens Minelli convenceu o Bola-Bola, não foi fácil, a jogar mais adiantado. Como estes, dezenas de outros exemplos poderiam ser lembrados.

Muitas vezes, volantes foram carimbados como brucutus sem que merecessem o depreciativo conceito. O caso mais ilustre e recente foi Edinho. Fernando Carvalho refrescou a memória geral, recentemente, lembrando que nas finais da Libertadores, 2006, o volante que não sabia jogar deixou o Jorge Wagner pifado duas vezes na cara do gol e depois deu o passe pro Sóbis. Ainda nesta que foi a mais gloriosa temporada na vida do Inter, Edinho acertou 462 passes, ficando entre os três melhores passadores do Brasileirão, segundo levantamento do Data-Folha, se não me falha a memória. O problema de Edinho não era o passe, tampouco o apoio. Ele passava e apoiava com boa média de aproveitamento. Sua dificuldade era a pouca velocidade. Normalmente, chegava um pouco atrasado para o desarme e, como é muito forte, acabava atropelando o adversário, cometendo muitas faltas diante da sua área.

Não, os volantes não estão sumindo, coisa nenhuma. Felizmente, estão surgindo volantes com boa qualificação técnica e em bom número. Mas, quem presta atenção ao que acontece na aldeia, deve ter percebido que houve boa pressão contra a titularidade do volante Sandro. Não queriam um meia-atacante no seu lugar?

segunda-feira, março 02, 2009

E o que dizer do Gre-Nal?!

O que dizer sobre o Gre-Nal senão que foi a melhor partida do Inter na temporada e a pior do Grêmio (se descartarmos Veranópolis).

I. As Causas da Derrota

Do lado gremista, Roth teve sua parte de responsabilidade, mas a derrota não passou só por ele. É fato que ele não viu que 3-6-1 gremista não servia para enfrentar o 4-3-1-2 colorado. Que o Inter não era o mesmo de Erechim, usw. Mas, o Gre-Nal foi muito além disso.

O Grêmio não perdeu só taticamente. Foi pior também tecnicamente. Não se pode colocar a culpa apenas no esquema, já que todos os jogadores sabiam como funcionava. Mas ao invés de termos um meio compacto, com constantes trocas de posições (como em Novo Hamburgo e Erechim), tivemos aquilo que se viu. Os jogadores corriam, mas cada um para um lado diferente. E com dois jogadores a mais no meio, não conseguíamos trocar três passes. Mesmo que o Roth tivesse acertado na escalação, não é de se duvidar que o desfecho seria semelhante. Os jogadores do Grêmio jogaram abaixo do que sabem. Podem nominar: Tcheco, Sousa, Ruy, Jadílson, Adílson, Alex, Jonas, Leo, usw. O time mudou o esquema por duas vezes e continuou pior que o Inter!

Mas não foi só pela tática e pela técnica. O Grêmio perdeu também psicologicamente. Os jogadores estavam transtornados. O time como um todo estava absurdamente ansioso. O Adílson, melhor jogador da quarta-feira, por exemplo, foi terrível. Bateu até na própria mãe. Deveria ter sido expulso meia hora ANTES; não, no último minuto. Houve muita reclamação, muito pontapé, muito erro de passe. Era como se do jogo dependesse a temporada, e os jogadores (e o técnico) acusaram o golpe.

E para completar, o time ainda perdeu na parte física. O Inter sobrou em campo, mesmo tendo jogado na quinta-feira.

Em um Gre-Nal entre dois times equivalentes (ainda acho isso), o Grêmio perdeu tática, técnica, psicológica e fisicamente. Um jogo para abalar toda e qualquer convicção de trabalho. Se o Grêmio não fizer tudo certo no decorrer das próximas semanas (e olhem que os dois próximos jogos da Libertadores são fora de casa), pode botar a temporada a perder.

II. E o Porvir?

Foi uma derrota que expôs todas as fragilidades do grupo técnico e de jogadores de uma só vez. Faltou tudo no domingo. O Grêmio saiu do Beira-Rio com a impressão que não é time talhado para decisões, e Libertadores É SÓ DECISÃO. Restaurar a confiança é fundamental. Todos tem que ter consciência do vexame, porque haverá outros jogos decisivos, e uma outra atuação dessas será inadmissível.

Se fosse dirigente, o Gauchão, por enquanto, seria tratado como “águas passadas”. É fundamental que essa derrota seja posta de lado e permanceça apenas como “sinal de alerta”. É hora de dar suporte aos jogadores e à comissão técnica. É hora de mostrar que decisão se ganha com FUTEBOL e que é necessário CALMA nos momentos decisivos. O time tem bola para ser campeão; está na hora de também ter cabeça.

Por hora, recomendo a utilização de reservas no Estadual a partir de agora. Os titulares só voltariam a jogar pelo Gauchão quando não tivessem que viajar ou se não tivessem voltado de viagem. O que acontecerá contra o Caxias em 02/04 e se adiantassem a partida contra o São José para 19/03. Colocaria reservas, sem qualquer dúvida, contra Ypiranga, Santa Cruz, Sapucaiense, Ulbra, São Luiz e nas finais. Os titulares só jogariam uma eventual final de Gauchão. Isso é correr o risco de ver o Inter campeão gaúcho? Sim, mas temos que ter consciência que tivemos nossa chance na Primeira Taça e a jogamos fora. Abrir mão do Gauchão é ruim, mas nós mesmos nos colocamos nessa posição.

No mais, apenas torço para que a direção saiba tomar as decisões corretas nesse momento difícil.