quinta-feira, abril 12, 2007

PFL virou Democratas. E daí?!

Um amigo meu me pergunta:

Você acha que a mudança de nome [do PFL] reflete uma mudança política?

Respondo.
Acredito que representa, sim, uma mudança política, mas não com a correlação que as pessoas encaram. A alteração do nome é a consolidação dessa mudança e não o estopim. Note-se que o "poder" do partido saiu dos cardeais e passou para uma ala mais jovem, com discurso mais de "vanguarda".

Eu cheguei a acompanhar de perto essas mudanças, até me afastar definitivamente da brincadeira (o que já faz um tempo razoável, pois ainda estava na faculdade). E todos os pensamentos "novos" eram cada vez mais, digamos, tucanos. Os debates resumiam-se a um "nós somos um PT melhor que o PT": vamos melhorar a administração pública; vamos reduzir impostos; vamos fazer o país crescer; arrecadar mais; distribuir renda. Além claro, de impor a agenda "progressista", politicamente correta.

Nunca a classe política brasileira atingiu tal nível de consenso; curiosamente, totalmente dissociado da maior parte da sociedade brasileira, como a pesquisa Datafolha mostrada abaixo comprova.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não digo que o DEM fará isso, mas você não acha que o liberalismo, principalmente depois dos impasses gerados pelo 'neoliberalismo', deveria incorporar no seu programa temas como justiça social, entre outros?

Penso em Noberto Bobbio e John Rawls (na minha opinião, o maior teórico do liberalismo norte-americano - há um debate muito interesante entre ele e Habermas), como fonte de inspiração para vocês, jovens liberais.

Acho interessante que o liberalismo brasileiro faça uma dissociação entre política liberal e política conservadora. Essa relação é histórica, mas não necessariamente lógica ou necessária. Acharia um avanço que essa relação antiga ficasse contingente.

Na minha opinião, a crítica liberal contra a esquerda é muito mais eficiente do que a conservadora (aliás, pode gerar um diálogo não dogmático), simplesmente porque o modelo de democracia de Olavo de Carvalho, por exemplo, é muito restrito. Existe uma radicalidade democrática no liberalismo político que não existe no conservadorismo.

A reciclagem pode ser interessante. A esquerda (não toda é verdade) faz isso quando incorpora o mercado e elementos da democracia liberal no seu programa.

12 abril, 2007 18:43  
Blogger San Tell d'Euskadi said...

Artur, mas "neoliberalismo" é exatamente um liberalismo mais preocupado com as ditas questões sociais. É o liberalismo de Rosevelt, de Keynes, do Partido Democrata americano. É a social-democracia ou, então, o social-liberalismo de Merchior. Eu nunca entendi porque o neoliberalismo transformou-se em "liberalismo" e a volta aos preceitos clássicos é que passou a receber a alcunha de "novo".

Bobbio e Rawls, p.e., são dois pensadores de esquerda. Sérios, intelectualmente honestos, o que gera certa confusão, mas de esquerda. Eles acreditam num "mínimo múltiplo comum liberal", como define Vargas Llosa, que deve ser a base do consenso político, mas crêem que a ação do Estado é mais eficaz na busca da redução de desigualdades. Aliás, salvo melhor juízo, está na própria “busca da redução de desigualdades”, a grande característica do "ser de esquerda" para Bobbio.

Artur, essa dissociação que tu crês que os liberais devem fazer é absurda. Afinal, uma vez conquistado o tal “mínimo comum liberal”, só há dois caminhos a escolher: a alternativa conservadora ou a alternativa progressista. Ou os liberais se filiam à direita ou à esquerda. Inexiste terceira hipótese.

O problema da crítica liberal à esquerda é que ela não ataca a esquerda em si, pelo menos não a “esquerda pró-mercado”. Algo que o Olavo de Carvalho já demonstrou diversas vezes em seus artigos. Confesso que não entendi o que seria “radicalismo democrático”, ou que tu queres dizer com isso.

È essa reciclagem “interessante” a qual passou – e ainda passa – o PFL (agora, DEM). Como viste, me desagradou profundamente.

12 abril, 2007 20:02  
Anonymous Anónimo said...

É interessante você colocar Bobbio e Rawls como pensadores de esquerda. No fundo, depende do ponto de vista. Partindo do meu, os dois estão mais à direita; do seu, é o contrário, mais à esquerda. Bem, todos o dois partem da defesa da liberdade para abordar a questão da igualdade - ao contrário da esquerda marxizante.

Quando falei da dissociação, pensava no seguinte fenômeno: é raro o liberal brasileiro filiado ou simpático à esquerda. No fundo, desejo que aconteça mais isso. Para você, não existe a necessidade de dissociação, já que há duas alternativas ao liberal - o problema é que, no Brasil, raramente vejo duas alternativas; aliás, só vejo uma: a associação entre liberalismo e conservadorismo.

Pelo que entendi, você tem suas simpatias pelo liberalismo a partir do conservadorismo - é isso?

Para uma esquerda que tenha alguma pretensão em se reciclar, o liberalismo político (o liberalismo econômico é outro papo) possui na sua lógica interna um potencial de radicalismo democrático que pode, inclusive, ser utilizado para a crítica dos limites da democracia liberal. Pode-se imaginar um liberalismo que faça uma defesa radical da liberdade e essa defesa leve a uma "radicalidade democrática", logo, a uma tensão em relação à democracia liberal (implica modelos de democracia, no campo social, político e econômico que podem superar algumas contradições da democracia moderna ). Claro, essa discussão envolveria argumentos menos vagos, mas não tenho tempo, nem espaço (estou fazendo um artigo acadêmico a respeito; terminando, envio-te. Passa por argumentos basicamente habermasianos).

12 abril, 2007 23:04  

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