Comentários a "A Síntese da Tolerância" de Paulo Wainberg
Paulo Wainberg é conhecido pelo seu estilo irônico e escrachado na análise de questões sérias; seus textos são tão engraçados quanto diretos e bem elaborados. O artigo "A Síntese da Tolerância" publicado em ZH, 17 de novembro de 2008, não foi diferente. É difícil refutá-lo sem parecer chato, "grosso" ou prolixo, mas como dizem que eu sempre pareço chato, "grosso" ou prolixo, isso, parece, não será um problema. Primeiro ponto, ignoremos o estilo do texto. Não vou jogar na casa do adversário, é melhor em campo neutro.
Estilo fora, sobra, apenas, a linha central do artigo. O "pano-de-fundo" é a eleição de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos, mas seu fundamento, mesmo, é o racismo na sociedade brasileira. Comecemos pelo "pano-de-fundo".
Para Wainberg, a vitória de Obama é o ápice das lutas pelos direitos civis dos negros na década de 50 e 60 nos Estados Unidos. Entratanto, no texto há uma super-simplificação de um movimento heterogêneo, cujos objetivos e métodos nunca foram unívocos. para ficar num exemplo, equiparar Malcom X a Martin Luther King equivale a igualar um déspota como Robespierre a Mahatma Ghandi. Qual deles a vitória de Obama representa: o revanchista Malcom, que entendia-se "negro", odiava os "brancos" e pregava o confronto, ou o pacifista King, que entetendia-se "humano" e sonhava com a convivência pacífica, o fim das barreiras e comparações étnicas? Para Wainberg, no entanto, isso é a mesma coisa. A "Síntese da Tolerância", de tão sintética, confunde-a com a intolerância e abstrai, inclusive, o racismo de "negros" com "brancos" na sociedade americana, como se racismo fosse uma via de mão-única, arma dos "brancos" contra os "negros", que jamais poderia ser usada de modo contrário. A eleição de Obama não representa a vitória daqueles movimentos, pois eles não tinham - e ainda não tem - uma idéia única do que seja "a vitória". O viés racial que Wainberg coloca na eleição americana é, por si, uma demonstração de que há ainda um longo caminho a se percorrer. Se a eleição de Obama é um recado dos americanos dizendo "Viram? Não somos racistas! Temos um presidente negro", o que os levou a votar foi um instinto mais forte que a inteligência: o instinto da busca pelo perdão. Não importa qual o resultado da ação, nesse caso o instinto também venceu a inteligência.
Já sua crítica a sociedade brasileira, tendo como ponto-de-referência a sociedade americana, também tem problemas a começar pelo próprio ponto-de-referência. São sociedades completamente diferentes, com histórias diferentes, compreensão de si mesmas diferentes. Para o bem e para o mal, somos distintos. Novamente, Wainberg cai no problema da super-simplificação, buscando no estrangeiro um modelo e o aplicando ao Brasil sem a menor adequação. O que é diferente cai na conta de "hipócrita" e, voilá, tudo se encaixa. A questão da miscigenação, de início política portuguesa de ocupação e depois costume arraigado na base da sociedade é sumariamente posta de lado. Tornamo-nos iguais aos americanos em que "negro" é "negro", "branco" é "branco" e não se misturam. E quando se misturam, tem que tomar lado, como é o caso do próprio Barack Obama. Nos Estados Unidos, há os ricos "negros", os "negros" de classe média, os pobres "negros", nomes "negros", programas de televisão "negros" e seus equivalente "brancos". Segundo Wainberg, exatamente como no Brasil. Será, mesmo? Nós temos severos problemas de ordem institucionais, mas nossa segregação é outra. Dizer que "não há racismo" é um exagero, mas menor do que qualificar a sociedade brasileira como racista. O porto-alegrense e o gaúcho não votaram em Collares porque o achavam "negro"; o paulistano não votou em Pitta porque o achava "negro", dois exemplos de políticos considerados "negros" que venceram importantes eleições no país. Nenhum deles e outros tantos candidatos foram eleitos como medida dessegregacionista; foram eleitos pelas suas qualidades como políticos. Nossa segregação não vê cor de pele na maior parte das vezes. Segregamos entre ricos e pobres; e temos uma classe média que sofre esprimida entre dois mundos. E esse problema, que me desculpe Paulo Wainberg, não se começa admitindo ter um problema alheio, nem resolvendo com cotas em Universidades.
O artigo pode ser encontrado em: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2296404.xml&template=3898.dwt&edition=11116§ion=1012
Estilo fora, sobra, apenas, a linha central do artigo. O "pano-de-fundo" é a eleição de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos, mas seu fundamento, mesmo, é o racismo na sociedade brasileira. Comecemos pelo "pano-de-fundo".
Para Wainberg, a vitória de Obama é o ápice das lutas pelos direitos civis dos negros na década de 50 e 60 nos Estados Unidos. Entratanto, no texto há uma super-simplificação de um movimento heterogêneo, cujos objetivos e métodos nunca foram unívocos. para ficar num exemplo, equiparar Malcom X a Martin Luther King equivale a igualar um déspota como Robespierre a Mahatma Ghandi. Qual deles a vitória de Obama representa: o revanchista Malcom, que entendia-se "negro", odiava os "brancos" e pregava o confronto, ou o pacifista King, que entetendia-se "humano" e sonhava com a convivência pacífica, o fim das barreiras e comparações étnicas? Para Wainberg, no entanto, isso é a mesma coisa. A "Síntese da Tolerância", de tão sintética, confunde-a com a intolerância e abstrai, inclusive, o racismo de "negros" com "brancos" na sociedade americana, como se racismo fosse uma via de mão-única, arma dos "brancos" contra os "negros", que jamais poderia ser usada de modo contrário. A eleição de Obama não representa a vitória daqueles movimentos, pois eles não tinham - e ainda não tem - uma idéia única do que seja "a vitória". O viés racial que Wainberg coloca na eleição americana é, por si, uma demonstração de que há ainda um longo caminho a se percorrer. Se a eleição de Obama é um recado dos americanos dizendo "Viram? Não somos racistas! Temos um presidente negro", o que os levou a votar foi um instinto mais forte que a inteligência: o instinto da busca pelo perdão. Não importa qual o resultado da ação, nesse caso o instinto também venceu a inteligência.
Já sua crítica a sociedade brasileira, tendo como ponto-de-referência a sociedade americana, também tem problemas a começar pelo próprio ponto-de-referência. São sociedades completamente diferentes, com histórias diferentes, compreensão de si mesmas diferentes. Para o bem e para o mal, somos distintos. Novamente, Wainberg cai no problema da super-simplificação, buscando no estrangeiro um modelo e o aplicando ao Brasil sem a menor adequação. O que é diferente cai na conta de "hipócrita" e, voilá, tudo se encaixa. A questão da miscigenação, de início política portuguesa de ocupação e depois costume arraigado na base da sociedade é sumariamente posta de lado. Tornamo-nos iguais aos americanos em que "negro" é "negro", "branco" é "branco" e não se misturam. E quando se misturam, tem que tomar lado, como é o caso do próprio Barack Obama. Nos Estados Unidos, há os ricos "negros", os "negros" de classe média, os pobres "negros", nomes "negros", programas de televisão "negros" e seus equivalente "brancos". Segundo Wainberg, exatamente como no Brasil. Será, mesmo? Nós temos severos problemas de ordem institucionais, mas nossa segregação é outra. Dizer que "não há racismo" é um exagero, mas menor do que qualificar a sociedade brasileira como racista. O porto-alegrense e o gaúcho não votaram em Collares porque o achavam "negro"; o paulistano não votou em Pitta porque o achava "negro", dois exemplos de políticos considerados "negros" que venceram importantes eleições no país. Nenhum deles e outros tantos candidatos foram eleitos como medida dessegregacionista; foram eleitos pelas suas qualidades como políticos. Nossa segregação não vê cor de pele na maior parte das vezes. Segregamos entre ricos e pobres; e temos uma classe média que sofre esprimida entre dois mundos. E esse problema, que me desculpe Paulo Wainberg, não se começa admitindo ter um problema alheio, nem resolvendo com cotas em Universidades.
O artigo pode ser encontrado em: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2296404.xml&template=3898.dwt&edition=11116§ion=1012
3 Comments:
Meu caro Tiefschwartz, seja você quem for pois, ao procurar o seu anunciado perfil, nada consegui. Ou você não quer ser identificado ou minha total ignorância no manejo deste instrumento cibernético novamente se manifestou. Agradeço ter-se dado ao trabalho de comentar o artigo Síntese da Tolerância, publicado em Zero hora. E permita-me respondê-lo, aqui entre nós.
Em primeiro lugar, a título de esclarecimento, meu sobrenome é Wainberg (com a) e não Weinberg (com e), com vc insistiu em repetir. Nada de mais, apenas para os anais da eternidade....
Quanto ao artigo em si, como a própria palavra está dizendo, foi um artigo e não um tratado ou defesa de tese. Compreensível, dadas as limitações de espaço impostas pelo jornal. Portanto escrevi o que chamo de uma "idéia central" sobre a eleição de Obama nos Eua.No que pertine à primeira parte do seu comentário, quero referir que jamais comparei Malcon X a M.L.King, apenas mencionei que os dois, cada um ao seu modo, lideraram movimentos de "libertação" da discriminação racial que, em nenhuma hipótese pode se confundir com racismo, como vc manifesta. Os negros americanos, libertos da escravidão, tornaram-se cidadãos de segunda classe diante de uma discriminação explícita e não negada pelos americanos. Os brancos não toleravam a simples convivência com os negros e dividiram o país em áreas de exclusividade branca e áreas "permitidas" aos negros.Isto se chama discriminação que nada mais do que o "racismo" em movimento. Essa discriminação foi violenta, desumana, sanguinária e brutal em todos os sentidos. Quando os americanos elegeram Obama não quer dizer que deixaram de ser racistas, muito pelo contrário, continuam racistas. Mas através de um viés democrático e à luz dos direitos humanos, responderam ao próprio racismo com o fim da discriminação racial. Concordo que possa haver o elemento "perdão" nessa escolha, pedido de perdão, melhor dizendo. Mas foi a demonstração de que a sociedade americana não quer, em seu país pelo menos, por em prático seu atávico racismo.Nesse mesmo sentido é que afirmei que os americanos eram hipócritas mas não cínicos. Hipócritas porque, pregando a igualdade e a liberdade, discriminavam os negros. Mas não cínicos, porque não negavam essa discriminação e, ao contrário, legalizavam a conduta. E aí entro na segunda parte de sua manifestação: a única comparação que estabeleci entre EUA e Brasil resumiu-se ao exercício da hipocrisia e do cinismo. Neste sentido, aqui no Brasil somos hipócritas e cínicos. Hipócritas porque, racistas (o racismo e a xenofobia são sentimentos da essência da humanidade), negamos a discriminação que praticamos no dia a dia, nas piadas, nas exigências maiores para negros do que para brancos, para as suspeitas, para a realidade econômico-financeira da maioria dos negros, bem abaixo da dos brancos, etc e etc. A questão das cotas foi apenas um exemplo de como nossa sociedade é hipócrita e cínica: não somos racistas? Então por que cotas para negros? Porque os negros são cínicamente discriminados, de forma subjacente, quase oculta e essa é a pior forma de discriminação racial, a que não pode ser combatida de frente devido ao disfarce. Há que acabar com o disfarce para depois eliminar a discriminação.
As características étnicas do eleito Obama são uma síntese da tolerância, opinião que mantenho.
Finalmente, meu caro Tiefscharz, impossível comparar Robespierre à Mahatma Gandhi. Um foi um filósofo, revolucionário, positivista e idealista que, num primeiro momento lutou pelo seu povo e no segundo momento, quando quis impor seu humanismo aos - estes sim sanguinários - Danton e Marat - foi por eles executado. Gandhi foi um místico, um líder espiritual que fez do auto-flagelo, consistente em jejuns intermináveis, uma verdadeira profissão de fé, bem ao modo da Opus Dei e outras seitas...
Era isto. Espero que não se chateie com alguma eventual contundencia, releve por favor, em prol do debate.
Grande abraço, Paulo Wainberg
Na verdade, é fácil refutá-lo, mas precisa de tempo para explicar todas as bobagens que escreveu sobre os US--onde moro há 12 anos e sou casada com um americano. Uma das mais fáceis e rápidas rasteiras que posso dar: a KKK foi fundada pelos DEMOCRATAS, bem como a Dixie line. Quanto a Hussein Obama, não tolera ser chamado de Hussein e estamos proibidos--ouviu bem?--proibidos de chamá-lo de tal. Outro detalhe: os REPUBLICANOS eram contra a escravidão enquanto os Democratas lutaram com todas suas forças para manter os "niggers" (palavra essa PROIBIDA aqui, a não ser que o sujeito seja un "nigger" bien entendu!) como escravos. Meu conselho ao Wainberg: te informa.
Tive que voltar para passar esse link para os que, como o tal Wainberg, acreditam que os americanos (brancos) são racistas: http://www.kctv5.com/video/22144014/index.html
A negra no video do link teve um ataque histérico e começou a quebrar o McDonald's. O motivo? Não gostou do hamburguer que comprou--que ela comeu todo--e queria ser re-embolsada! Eu, que, ao contrário do Wainberg, moro nos US há 12 anos, sei que se um branco tivesse feito o mesmo num bairro negro, a mídia americana (e internacional) estaria noticiando esse ato de RACISMO sem parar! E o cara muito provavelmente nem sairia vivo do McDonald's, porque teria sido fuzilado in loco! Por favor, informem-se DE VERDADE antes de acusar os americanos--brancos ou negros.
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