terça-feira, abril 17, 2007

Outra de Aquecimento Global

Para aqueles que reclamam de que eu só coloco textos da Metsul Meteorologia, segue um extraído do sítio da BBC:

O arrefecimento global, por Ivan Lessa

Quando ouço dizer que a Humanidade não vale o que o gato enterra, não posso deixar de, naquele gesto característico dos mais velhos e muito vividos, fazer com a cabeça, para cima e para baixo, que “sim, sim, é verdade.” Não vale mesmo.

Está aí o mui em moda “aquecimento global” de que todos falam e não me deixa mentir. Abram o jornal, liguem a televisão, entrem no papo de pé no balcão no pub da esquina, e lá estarão todos a dar seu palpitezinho sobre o “aquecimento global”.

Muitos o chamam de “aquecimento mundial”. Estes são vistos como uma espécie de torcedor, ou pior, jogador do Roma, que outro dia mesmo apanhou de 7 para o Manchester United.

“Aquecimento” foram os gols da equipe dirigida por sir Alex Ferguson. O resto é conversa. E conversa mole para boi dormir, tão antiga e batida que é.

Os cientistas do mundo inteiro, cansados de dar entrevista revelando o resultado de suas mais recentes pesquisas (os homens são mais altos que as mulheres, gato escaldado não pode ver chaleira, cara que mamãe beijou vagabundo nenhum põe a mão), sempre necessitados de verba e patrocinadores para sua falta do que fazer, reuniram-se e, numa cabala que necessitaria da pena de um Dan Brown, do Código Da Vinci, para narrar, decidiram, na calada da noite e após científico escrutínio, que era necessário dar um susto no mundo, no globo, em todos nós – uns bestalhões, para eles. Infelizmente, nessa acertaram em cheio. Somos mesmo.

Opções e decisão

Primeiro, os cientistas bolaram o seguinte: “Vamos espalhar que a Humanidade ficará completamente vesga dentro de 200 anos.” Um do lado, ponderou: “200 é muito. 100.”

Outro, mais vivo, lembrou-se dos tempos de criança e vendeu seu peixe. Perguntou se a turma não se lembrava que, quando eram todos garotos, tinha sempre uma tia que vivia fechando janela repetindo seguidamente que, “Desse jeito, “você acaba resfriado, menino”.

Estava lançada a semente do pomo da concórdia. Outro cientista recordou (os cientistas também tiveram infância, embora não tenham pinta) que sua tia, a tia dele, vivia falando dos perigos de um ar encanado, que aquilo era, na devida ordem, resfriado, gripe, pneumonia e, por fim, morte certa.

Foi uma afobação danada. Cada um queria acrescentar um caso ao anedotário. Depois de algum tempo de se pesquisarem em comum, numa festa de espumas, chegaram os homens de ciência a uma conclusão: a Humanidade (os cientistas só se dirigem à Humanidade com agá maiúsculo) insiste em não concordar com o tempo, com a temperatura que está fazendo.

Para cada camarada que se queixa de que está muito quente, há outro pê da vida com o frio. Para quem quer ligar o ar condicionado, há sempre alguém ameaçando ir pegar o suéter. E assim por diante.

Mais: a Humanidade não tem memória. A falta de memória não é exclusividade do brasileiro. A Humanidade já se esqueceu de mais de uma era glacial. A Humanidade já se esqueceu de era tórrida também.

Vieram todas, foram-se todas. A Humanidade já se esqueceu – e isso foi ontem – do pânico causado entre 1945 e 1976 pelo que foi chamado na época de “arrefecimento global”. Por um motivo muito simples: o mundo arrefecera.

Mares e sertões

Na época, os cientistas, dos quais muitos ainda estão vivos, juraram de pés juntos que centenas de milhões de pessoas corriam risco de vida. Talvez por isso Gláuber Rocha tenha, com sua mania de insinuações e entrelinhas cinematográficas, inserido em sua obra seminal, Deus e o Diabo na Terra do Sol, o mote clássico de que o mar ia virar sertão e o sertão virar mar.

Nada virou nada. Ficou-se na mesma. Até agora. Até essa besteirada toda que, ao que parece, deve estar dando um dinheirão para alguém em alguma parte.

No que me diz respeito, só peço uma coisinha: não desliguem o ar condicionado. Aliás, duas coisinhas: se for para fechar janela, deixem uma frestinha.

fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/04/070413_ivanlessa_tp.shtml