segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Educação

A “revolução doce” da Educação, proposta pelo anticandidato a presidência da República, professor Cristóvam Buarque, foi adotada por muitos intelectuais descontentes com o governo Lula. Citam, como exemplos de sucesso, os casos da Irlanda e da Finlândia e clamam para que o Brasil passe por processo semelhante.

Todavia, olvidam-se, os doutos seguidores dessa idéia, de uma série de particularidades existentes no país. As diferenças entre o Brasil e Irlanda e Finlândia são auto-evidentes – tamanho, população, localização geográfica, desigualdade social, etc. – e já são suficientes para demonstrar a incompatibilidade de modelos, mas, há uma diferença ainda pior e fundamental: não se sabe na História daqueles países que o título fosse mais importante que o próprio conhecimento.

Essa é a realidade brasileira.

Apenas aprimorar o sistema educacional existente no Brasil, somente passar a priorizar a Educação como política pública, seria agravar o problema, não o solucionar. Afinal, a atual demanda não é por pessoas portadoras de conhecimento ou capazes de gerar conhecimento, mas por “doutores”. O que se quer são pessoas formadas. Não importa o quanto se sabe ou o que se sabe, mas se tem o Ensino Básico, se tem o Ensino Médio, se tem o Ensino Superior, se tem Pós-Graduação. A real demanda brasileira é por ensino oficial, não por educação! O que se propõe de solução para o país é mais ensino oficial e não educação. O que se chama de educação não é conhecimento, mas ensino oficial!

Dados como “crianças na Escola”, “média de anos de estudo” e “repetência” não medem conhecimento, mas são os indicadores de sucesso de política pública educacional. São os balizadores da “educação” nacional. E enquanto for esse tipo de número o que efetivamente importa, jamais solucionaremos o problema brasileiro de falta de produção de saber.

Por isso, antes de defender essa tal de “revolução doce”, deve-se perguntar: Educação para quê? Educação como?

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Concordo. Viajando um pouco mais longe e pensando nas pós-graduações. Houve uma massificação gigantesca da pós. Estamos repletos de doutores. A universidade virou terceiro grau e o mestrado, por exemplo, graduação. A política da quantidade deu certo, afinal, na década de 70 tínhamos uns 500 doutores (desculpe, mas não sei de onde tirei esse dado); agora, temos milhares. Por que não uma formação mais voltada à qualidade?

12 fevereiro, 2007 22:15  
Blogger San Tell d'Euskadi said...

Artur, esse é todo o problema. Qualidade impõe barreiras. Ensino voltado a qualidade resulta em elitização. Diferencia, desiguala, sobrepõe pessoas em virtude de uma capacidade. Isso é algo que, no Brasil, é inaceitável. Melhor é dar o título para qualquer um sem fazer muitas perguntas, pois isso nivela.

14 fevereiro, 2007 15:08  
Anonymous Anónimo said...

Outro problema é que o desaguadouro profissional só tem um único caminho: a universidade. Podem conviver juntas várias instituições encarregadas da profissionalização. Instituições diferentes, tipo faculdades, institutos, profissionalizantes, e por aí vai. Mas isso equivale a uma reconfiguração do papel da universidade, e isso gera muitas resistências. Ainda tenho esperança...

14 fevereiro, 2007 15:55  
Blogger San Tell d'Euskadi said...

As nossas universidades sofrem de "crise de identidade". Elas não sabem se formam o intelectual ou o profissional; acabam formando alguém sem base teórica e sem conhecimento prático. Eu teria esperança se visse alguma mudança, mesmo que pequena. Contudo, só vejo mais do mesmo. Enquanto não descentralizar, enquanto não desburocratizar, enquanto não desestatizar, não vejo a menor saída. Um abraço.

22 fevereiro, 2007 09:34  

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