Otavio Frias Filho, diretor de redação da
Folha de São Paulo, concede uma entrevista ao site
Observatório da Imprensa. O ponto mais alto é a resposta para a pergunta que segue:
Pergunta - A crise do mensalão parece ter mostrado algumas limitações na imprensa. Primeiro, a cobertura não foi satisfatória – cito a opinião de Marcelo Beraba [ombudsman até o início de abril]. Dependeu muito de autoridades, de CPI, de declarações oficiais, e isso acaba prejudicando. Uma coisa que chamou muito a atenção é que não se obtiveram as conseqüências políticas esperadas da denúncia de irregularidades e do abandono pelo presidente e pelo seu partido do discurso da ética na política. É uma impotência. Senti assim. Porque nós, Observatório da Imprensa, levamos pancada como se fôssemos um elemento a mais dessa mídia que se antagonizou ao governo: “Viu? Vocês perderam a eleição!” “Como assim, perderam a eleição?!” Eu queria ouvir sua opinião sobre essa passagem recente.Otavio Frias Filho - Eu acho que se investigou e levantaram-se evidências bastante convincentes. Me parece que ficou muito claramente estabelecido que
havia um maquinismo de corrupção funcionando dentro do governo. Que este maquinismo ultrapassava as fronteiras entre Estado e partido. Ficou muito configurado um aparelhamento dos setores do governo pelo partido. E ficou configurado também que isso tudo acontecia ou por anuência ou por omissão do presidente da República.
Em relação a esses fatos, me parece que não há muita dúvida. Mas não houve conseqüência real, prática, eu diria, por duas razões: porque a economia tem se desempenhado de forma entre sofrível e razoável – ao contrário, por exemplo, do período do Collor, quando o governo provocou uma recessão muito profunda –, e essa foi a principal razão estrutural que acabou levando à derrubada do Collor.
E, por outro lado, no período do Collor, havia uma mentalidade predominante na mídia, nos aparelhos culturais da sociedade, nas universidades, entre os intelectuais, os artistas, muito hostil ao Collor. E, hoje em dia, esses aparelhos culturais ainda padecem de uma mentalidade de servilismo em relação ao PT, em relação à figura simbólica do Lula.
Acho que em relação às conseqüências da crise do mensalão, as diferenças se deram por essas duas razões. Este é meu ponto de vista.
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Beiraria a heresia eu acrescentar qualquer comentário.