segunda-feira, fevereiro 25, 2008

A Verdadeira Reforma Agrária

Aos 10 de fevereiro deste ano, o jornal Zero Hora publicou uma reportagem polêmica: "O Sumiço da Terra Improdutiva". Tal matéria aponta que desde 2003 o INCRA não realiza desapropriações por improdutividade em estâncias gaúchas. Relata também que o Ministério do Desenvolvimento Agrário, criado para o fim específico da Reforma Agrária, quer modificar os índices de produtividade exigidos para evitar desapropriações.

Há muita queixas de que os produtores rurais preocupam-se mais com "status" do que com o cumprimento da função social de suas propriedades e que os baixos índices favoreçam essa postura. Bobagem. Claro que há aqueles produtores que ostentam riqueza sem ter um tostão; viajam e compram carro com dinheiro emprestado, contando com o sucesso da colheita. Quando o tempo ajuda, é uma beleza. Colhe-se a safra, vende-se e paga-se a dívida. Com o novo empréstimo, troca-se de auto e viaja-se outra vez. Quando não dá certo, eles se arrebentam; merecidamente. Depois, valhem-se do Judiciário para empurrar as dívidas adiante e retirar novos empréstimos. Isso é uma farra inconseqüente, questão de mentalidade de alguns. Essa imagem, claro, macula o produtor rural, mas não são todos, sequer maioria, que praticam tal expediente. Expediente que deve ser combatido, mas através de uma política de cobrança judical eficiente da dívida, não de reforma agrária ou subsídio agrícola.

O que ninguém considera nesse debate sobre reforma agrária é o fato de que a vida - e o trabalho - no campo é uma vida, em verdade, totalmente desgraçada. Aposta-se tudo em algo que não se controla; o tempo (clima). Para se ter uma terra auto-sustentável, é necessário ganhar na proporção, pois o custo é alto e o ganho é baixo. Para valer a pena, é necessário que a produção seja alta, pois há a obrigação de compensar os inevitáveis anos de perda (que não são poucos). Em um regime de agricultura familiar, isso é totalmente impossível. Nesse caso, alguém que faz tudo certo - não despediça um real, não ostenta luxos -, colhe, vende, paga as contas, reinveste na terra e só. Não há praticamente lucro líquido. Assim, quando o resultado é insatisfatório, o resultado é fome (!); não o choro de crocodilo do imbecil esbanjador citado anteriormente. O resultado é desolação, pobreza e desesperança. E esse acaba por ser o resultado de uma reforma agrária que enfrenta o inimigo errado, isto é, da nossa idéia de reforma agrária.

O correto seria, em realidade, lutar por uma reforma urbana. Tem que se tirar as pessoas do campo. A miséria rural é muito pior e mais cruel que a urbana. Quem conhece acampamentos e assentamentos de sem-terra, sabe a condição precária e dura desses verdadeiros favelados rurais. O caminho é migrar essas pessoas para os pequenos e médios municípios. Qualificar essa mão-de-obra, criando empreendedores e empregados em área de serviço e teconologia. Deve-se permitir que a terra seja cultivada ou utilizada em proporções maiores, com menos produtores e maior resultado. Quem quer a terra para bonito, com certeza, perderá. Como já perde hoje, ostentando falsidades. Principalmente, se vir, efetivamente, a ficar sem a terra em caso de inadimplemento.

Tal reforma traria progresso tanto para o campo quanto para as cidades. Essa foi a reforma agrária praticada pelos europeus, com a diferença que eles mandaram os sem-terra para outros países. Nós temos área e cidade de sobra para abraçar os nossos.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

O "Macaco" no Maior Clássico do Sul do País

Os torcedores do Internacional são conhecidos como os "Macacos" pelos adeptos do Grêmio. Muito discute-se, neste mundo politicamente correto, se isso é racismo; seja explícito ou velado. Creio que não. Podem dizer que digo isso por ser gremistas. Contudo, o ramo da família de minha mãe são todos vermelhos e, pois, sou filho de "macaco" e vivo bem com isso. Sinceramente, não vejo diferença no apelido aos consagrados "Gallina", do River; "Bostero" do Boca; "Porco" do Palmeiras; e "Manya(Mierda)", do Peñarol; por exemplo. Claro que a origem do apelido é pejorativa, mas de todos esses outros citados também o são. O "Macaco" possuía conotação "racial"; não, mais.

Creio que tal apelido só tenha ganho força, mesmo, na década de 1940. Isso, apesar de o Internacional, já a partir dos anos '20, passar a aceitar negros e mulatos no time. Ninguém sabe ao certo quando surgiu e quando se consolidou tal alcunha, mas tenha a intuição de que ela está atrelada à supremacia Colorada no futebol gaúcho com o início do profissionalismo "à vera". Imagino que o apelido tenha vindo juntamente com o histórico "Rolo Compressor", os títulos do Internacional e o epíteto "Clube do Povo". Tudo isso ocorreu ao mesmo tempo em que o futebol se consolidou como o "passatempo das massas" no país; e o Rio Grande não foi exceção. O Inter era o melhor time e contava, em seus quadros, com jogadores "mulatos" e "negros" (o Grêmio, mesmo, não chegava a ser totalmente de "brancos", pois aceitava "bugres" e "índios", como Lara). Ora, como a camada mais pobre do povo sempre foi formada, em sua maioria, por descendentes de escravos, a identificação entre ela e o clube foi imediata; e o apelo emocional do "nós podemos vencer" foi tão forte quanto evidente.

Provavelmente, alguns gremistas racistas e recalcados (obviamente que não eram, não são e nunca serão todos; sequer, maioria) tascaram o apelido de "macaco" aos torcedores do Internacional como forma de desforra pelas incessantes derrotas que o Colorado lhes proporcionava. Entretanto, tal apelido ignorou e mascarou um pequeno, porém presente, grupo de torcedores do Grêmio das camadas mais pobres e, quase como via de regra, de "negros" e "mulatos"; a começar pelo próprio torcedor-símbolo do clube: Lupicínio Rodrigues. Aliás, Lúpi (Lupe) teria se tornado gremista por um episódio envolvendo o clube do seu pai - apenas de "mulatos" (para ver como eram as sutilezas da época) - cuja inscrição na Federação foi vetada pelo Internacional, que sequer dignou-se, posteriormente, a ceder jogadores para a disputa de um amistoso contra esse time. Teria sido um ato de racismo por parte do Internacional? O que sei é que, por esse fato, os membros e torcedores do Rio-Grandense passaram a torcer pelo Grêmio, em represália. Portanto, da mesma forma em que havia "brancos" colorados, também havia "negros" e "mulatos" gremistas quando surgiu o "macaco" no futebol gaúcho.

Para afastar a conotação racial do "macaco", pesa o fato de o Grêmio romper a barreira contra "negros" (há relatos de que "mulatos claros", tipo Barack Obama, Lewis Hamilton ou Tiger Woods, já jogavam no clube) com a chegada do Tesourinha, em 1953. E, a partir de 56, com uma sucessão de timaços que lhe rendeu a hegemonia estadual por 13 anos, o Grêmio conseguiu tornar-se tão "popular" quanto o Inter e também conquistar muitos adeptos nas camadas mais pobres (conseqüentemente, entre "negros" e "mulatos"). Assim, já na década de '50, os dois clubes passaram a disputar cada coração, de cada torcedor, de cada família, de cada credo, de cada faixa social, de cada cor de pele, sem qualquer distinção possível. Desde aí, o estigma de "macaco" perdera todo o sentido. Se os torcedores do Internacional não eram mais "negros" que os do Grêmio, e se os jogadores do Grêmio não eram mais "brancos" que os do Colorado, então, por que eles são os "macacos"? Não há resposta para essa pergunta dentro de um contexto "racial". O "macaco" continuava lá, mas sem qualquer relação com sua raison-d'être inicial.

Hoje, um gremista considerado "negro" por algum critério pseudo-científico-cultural qualquer estabelecido pelo nosso "Ministério da Igualdade Racial" não é "macaco"; em compensação, um colorado albino o é. O que diferencia não é a cor da pele, mas da camisa! Futebolisticamente falando, na relação entre Grêmio e Internacional, "macacos" são VERMELHOS. Prova disso? Os próprios colorados gritam: "Ah! Eu sou macaco!". A Camisa 12, organizada do clube, tem um bandeirão com um gorila colorado. Há uma outra organizada chamada MA.CA.CO.. E os gremistas são racistas, quando os chamam de "macacos"?! Há um hialino exagero histérico nisso. Não há racismo no "macaco". Não pode haver; pelo menos, não em regra. Pode haver no caso particular - inclusive, no caso do colorado que não aceita o apelido por ser coisa de "negro" -, jamais de forma geral; o que já invalida a tese de racismo no apelido em si.

Tal transformação ocorreu já nas décadas de 50/60, mas como estamos numa época politicamente correta e de revisionismos forçados, a tese de racismo voltou com força. É tão ridículo quanto achar que o Grêmio é um clube fascista e o Inter é um clube comunista. Não faz qualquer sentido, mas tem gente que acredita.